Assinala-se hoje o 109º aniversário da Revolta da Água-Pé
Corria o mês de outubro de 1914, viviam-se os primeiros anos da Primeira República Portuguesa e assistia-se a alguma agitação pró-monárquica.
Às 8 horas da manhã do dia 20 de outubro daquele ano iniciou-se uma nova revolta monárquica, a Revolta da Água-Pé (ou Segunda Outubrada), movimento que teve origem na região de Mafra e Torres Vedras.
Naquela manhã, em Mafra os revoltosos assaltam o Quartel da Escola de Tiro de Mafra levando consigo 200 espingardas e 2 800 munições, seguindo para Torres Vedras, onde esperavam encontrar apoio.
Ao atravessarem a freguesia de Ventosa foram intercetados por uma força da Guarda Nacional Republicana vinda de Torres Vedras e por uma força militar fiel ao governo, vinda de Mafra, sob o comando do capitão Álvaro Poppe.
O embate ocorreu nas proximidades de São Pedro da Cadeira, tendo dai resultado três mortos (dois cabos que perseguiam os conspiradores e um homem do povo) e vários feridos.
Nos lugares de Encarnação, Azenha dos Tanoeiros, Coutada, São Mamede da Ventosa e Moçafaneira registaram-se também algumas escaramuças.
Os revoltosos saíram derrotados destes confrontos e dirigiram-se para norte, tendo pernoitado nos arredores de Póvoa de Penafirme.
Nos dias seguintes, os líderes da revolta foram sendo presos, tendo depois sido condenados, em janeiro de 1915, a pesadas penas de prisão que cumpriram na cadeia de Mafra.
Foram detidas mais de cem pessoas em Mafra, indivíduos suspeitos de serem cúmplices dos revoltosos, mas que acabariam por ser libertados por falta de provas.
Um jornal da época, o Jornal Illustração descreveu assim o que se passou naquele dia:
“Os monarcas mais uma vez tentaram contra as instituições. Mas desta vez foi uma tentativa mais ridícula do que as anteriores. Nem ao menos os rebeldes conseguiram que o seu movimento se exteriorizasse para além dos campos de Mafra, onde um pequeno grupo deu sinal de si no dia 19 do corrente, pela madrugada. Um tenente, o famigerado conspirador Henrique Constâncio, que já recebera da Republica o perdão de atentados anteriores, quis pagar essa generosidade levando alguns deslealdade para com os seu colegas que com ele estavam na Escola Pratica (Escola de Tiro de Infantaria), manhã ainda cedo, quando não se esperava coisa alguma de anormal, apareceu-lhes nos seus quartos a induzi-los a acompanha-lo nesse louco movimento. Como não foi atendido ordenou-lhes a prisão nos seus aposentos e veio com a sua horda arvorar a bandeira monárquica no majestoso mosteiro, estabelecendo patrulhas a todas as entradas da vila, que por algumas horas esteve em um estado de sítio por assim dizer cómico.
Pouco durou, porém, o grotesco domingo do irrisório herói. Conhecida em Lisboa pelo governo a notícia do atentado, dirigiram-se para Mafra cavalaria 4 e a artilharia aquarteladas em Queluz que encontraram já a vila livre dos importunos conspiradores, que haviam fugido para os montes próximos, abandonando pelos campos as suas armas e munições de que tinham apoderado nos depósitos da escola.”
Legenda:
1. Automóvel em S. Pedro da Cadeira com os srs, Alberto Portela, António Costa Rodrigues e Salvador Costa conduzindo o armamento apreendido.
- Camponeses com o armamento descoberto entre as urzes e vinhedos.
- Civis de Torres Vedras dirigidos pelo tenente Vieira em perseguição dos rebeldes.
- Na estrada de Torres; Uma avançada de Cavalaria.
Legenda:
1. Artilharia de Queluz em perseguição dos rebeldes entre Moçafaneira e S. Mamede da Ventosa(Torres Vedras).
- Camponeses transportando espingardas apreendidas.
- O administrador do concelho de Torres falando com o comandante da força de artilharia.
- Burro carregado com armas e cunhetes apreendidas aos rebeldes
- Infantaria 5 seguindo para S. Mamede da Ventosa.»
Também o jornal Democracia: Semanário republicano de Mafra se refere ao tema, na sua edição de 25 de outubro de 1914